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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Há coisas que melhor se dizem calando...

Pois o silêncio não tem fisionomia, mas as palavras muitas faces..."



Estava lendo um livro de Machado de Assis e deparei com esta frase. Li, reli, e li de novo. Realmente, o silêncio não tem fisionomia.
Este final de semana reparei um erro que cometo há 10 anos.
Este mês, fez exatos 10 anos que minha madrinha morreu. Ela se foi um mês antes de concretizar o "ser madrinha" (embora pra mim, ela já era mesmo...). Meu irmão supriu o buraco que estava em minha vida naquela época. Ele ficou no lugar dela e, automaticamente, comigo o tempo todo. Amo meu irmão, mas... Não era ela que estava ao meu lado. Senti uma falta imensa e um abismo em meu coração.
Ela era uma mãe pra mim. Me ouvia, me chamava atenção, me protegia, dava conselhos (Conselhos de verdade!). Dizem que pessoas do interior são mais "bobas". Não acredito e nem faço parte desses pensamentos ridículos. A sabedoria que ela tinha, era fora do normal. E de boba não tinha nada. Muito pelo contrario, sabia mais sobre a vida e já tinha aprendido tanto com ela que, junto deste aprendizado, alcançou a fórmula da paz. Ela era a serenidade em pessoa. Respeito e admiração eram as palavras que as pessoas viam em meus olhos quando a olhava. Mulher fantástica. Simples, humilde e amorosa. Pena que, infelizmente, Alguns fatos a afetaram muito. E, junto com eles, vieram as pessoas que não entendem o significado da palavra "Depressão" e, mesmo sem querer, sem saber, ajudam o "enfermo" a ir para o fim do túnel. Fazem ir ao encontro da luz... E ela foi...

Desde então, ignorei a hipótese de que existiam mais pessoas naquela casa que precisavam de mim. Decidi - Não ponho mais meus pés lá!
É, tenho muito o que aprender ainda...

Pra mim, haviam culpados ali e eu não queria vê-los. Na minha cabeça, o julgamento que fiz era mais forte que tudo. Que coisa idiota...

É estranho como coincidentemente, justamente no mês em que ela se foi, há exatos 10 anos, aconteceu uma coisa que, nunca vou me arrepender e que me mostrou o quanto perdi tempo com bobagens. Quebrei minha promessa. Voltei pra lá.

E como isso me fez bem. Não me arrependo de não ter voltado antes, porque esse era o momento certo.

Tinha só um medo: A minha reação ao ver as coisas dela, o quarto em que  dormiamos, o fogão a lenha que ela fazia coisas saborosas e ainda esquentava meu leite com mel, rsrs (nunca mais tomei um leite igual ao dela. Fico pensando, que mágica fazia pra ficar tão bom, rs). Enfim, aquele lugar era a cara dela.

Fiquei triste quando abri aquela porteira. Esta quase tudo abandonado. Os lugarem onde eu ia, onde brincava, estava cheio de mato. Nem nas árvores consegui subir. Não tinha como chegar até elas...
Não os culpo por isso, de modo algum. Eles não tem como manter aquele lugar em perfeita ordem. As minhas primas tem problemas de locomoção e os meus dois primos trabalham na roça além de ter problemas de saúde. realmente, não tem como mesmo...

Concordo com Machado de Assis. Pensei que iria fazer um monte de coisas, menos ficar calada. Porém, meus pensamentos sempre me enganam e estão errôneos. Eu fiquei muda.

Não tive reação nenhuma. Só lágrimas nos olhos, que não escorreram, porque não queria que eles ficassem tristes em me ver. Já estavam apreensivos com minha presença. Há 10 anos não pisava lá e eles sabiam porque. Sabiam da mágoa que tinha em ver que ela estava morrendo aos poucos e que ninguém a ajudara. Mas gostei do que senti. Porque a mágoa que tinha, foi embora quando cheguei. Quando entrei naquela casa, naquele quarto. Quando os vi. Quis abraça-los e conversar com eles. Senti falta deles esses anos que estive longe por um sentimento que não vale nada. Que nunca deveríamos sentir.

Agora tento não me arrepender do tempo que estive afastada deles. Foi bom isso ter sido agora. Melhor agora do que tarde demais. Foi do jeito que tinha que ser. No tempo que tinha que acontecer.

Aprendi muito neste final de semana. Aprendi que realmente, atos refletem e transmitem sentimentos melhor do que palavras. Por mais que ninguém mais saiba o que aconteceu. Você sabe, é o que importa.

Sinto sua falta, mãe postiça. Queria que estivesse aqui para me aconselhar novamente.
É mãe. Pena que não esta mais comigo para puxar minha orelha...

Realmente, Há coisas (sentimentos) que melhor se dizem calando...